Brasília - O
dado mais comentado da pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea) sobre violência contra as mulheres estava errado. Depois
do estudo gerar reações que envolveram desde a presidente Dilma
Rousseff até a funkeira Waleska Popozuda, o Ipea admitiu ontem em uma
nota, que o índice mostrando que 65,1% dos brasileiros acreditaria que
“mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas”
estava trocado e que, na verdade, 26% dos entrevistados concordam
totalmente ou parcialmente com a afirmação.
Manifestantes participam de ato contra a violência na Esquina Democrática, em Porto Alegre
No
texto, os pesquisadores do Instituto, Rafael Osório - diretor do
Departamento de Estudos e Políticas Sociais - e Natália Fontoura,
coordenadora de Igualdade de Gênero, explicam que houve uma troca entre
os gráficos dessa questão e de outra, onde a afirmação era que “mulher
que é agredida e continua com o parceiro gosta de apanhar”. “A correção
da inversão dos números entre as duas das 41 questões da pesquisa
enfatizadas acima reduz a dimensão do problema anteriormente
diagnosticado no item que mais despertou a atenção da opinião pública”,
diz o texto.
Os próprios pesquisadores admitiram a surpresa, ao
divulgar a pesquisa, com um índice tão alto. Ainda assim, o Ipea levou
uma semana para descobrir o erro. Ontem, logo depois de assinar a nota,
Rafael Osório pediu demissão da diretoria do departamento.
O
resultado errado foi o que teve maior destaque na pesquisa e chamou a
atenção inclusive fora do Brasil. Logo depois da divulgação uma campanha
na internet, iniciada pela jornalista Nana Queiroz, se tornou viral e
obteve o apoio de mulheres e homens em todo o país, incluindo atrizes,
atores e outros artistas posando com cartazes com variações sobre a
frase “Eu Não Mereço Ser Estuprada”.
Até mesmo a ministra de
Políticas para Mulheres divulgou a sua foto e a presidente Dilma
Rousseff usou sua conta na rede social Twitter para apoiar a campanha.
Jornais e sites no exterior, como o inglês The Guardian e o americano
The Huffington Post deram destaque à pesquisa e à campanha. Ontem pela
manhã, Nana deu uma entrevista ao programa da BBC Londrina Women’s Hour
(Hora da Mulher). No Palácio do Planalto, o erro do instituto foi visto
com espanto, mas evitou-se qualquer tipo de comentário.
No
resultado correto, são 26% os que concordam com a afirmação de que uma
mulher de roupas curtas merece ser atacada - 13,2% concordam totalmente e
12,8%, parcialmente. O número ainda é muito alto, mas consideravelmente
inferior ao número que causou uma enorme reação nacional. Apesar disso,
outro dado chocante da pesquisa está correto, de acordo com o IPEA:
58,5% dos entrevistados concordaram que “se as mulheres soubessem se
comportar, haveria menos estupros”. E, com a descoberta do erro, sabe-se
agora que 65,1% dos entrevistados acredita que mulheres que são
agredidas e continuam com o parceiro gostam de apanhar.
Houve,
ainda, outros gráficos trocados, segundo a nota do Ipea. Nesse caso, com
duas perguntas semelhantes. Na frase “O que acontece com o casal em
casa não interessa aos outros”, 13,1% discordaram totalmente e 5,9%,
parcialmente. Diante da afirmação “Em briga de marido e mulher não se
mete a colher”, 11,1% discordaram totalmente e 5,3% discordaram
parcialmente.
“As conclusões gerais da pesquisa continuam
válidas, ensejando a aprofundamento das reflexões e debates da sociedade
sobre seus preconceitos”, diz a nota do Ipea. “Pedimos desculpas
novamente pelos transtornos causados e registramos nossa solidariedade a
todos os que sensibilizaram contra a violência e o preconceito.”