Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
Quem anda pelo centro de grandes cidades como Rio de Janeiro, São
Paulo e Brasília, certamente, já esbarrou em patinetes elétricos, verdes
ou amarelos, aparentemente largados pelas esquinas ou calçadas. A
alternativa de transporte surgiu de forma discreta, levantando a
curiosidade do brasileiro e, aos poucos, começou a cair no gosto
popular, transformando-se em “febre”. Desde a chegada do serviço de
aluguel desses equipamentos, é comum ver pessoas circulando rapidamente
entre os pedestres ou mesmo entre os carros em pequenos patinetes
elétricos.
Na avaliação de especialistas ouvidos pela Agência Brasil, a nova
opção traz vantagens para a mobilidade de grandes cidades. Entretanto, é
necessário que o Poder Público regulamente o uso do equipamento para
que haja regras que garantam a segurança de usuários, motoristas e
pedestres.
Professor do Programa de Engenharia de Transporte do Instituto
Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe),
da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Ronaldo Balassiano
defende o aumento no número de opções de transporte, sobretudo nos
locais onde os carros são os grandes poluidores.
Circulação com patinetes elétricos invadiram as ruas das grandes cidades nos últimos meses. – Valter Campanato/Agência Brasil
“Do ponto de vista de se locomover em distâncias pequenas, entre 5 km
ou 6 km, nas redondezas de casa ou do trabalho, o patinete traz uma
contribuição boa para a mobilidade urbana. O grande problema é que as
nossas autoridades, responsáveis por regular esses modos, continuam na
idade da pedra. O patinete já vem sendo usado nos Estados Unidos e na
Europa há alguns anos. Por que nós não nos preparamos para um mínimo de
regulamentação?”, questionou.
Os equipamentos, alimentados por uma bateria, podem chegar a uma
velocidade máxima de 20 km por hora, tornando difícil frear ou mesmo
desviar de um obstáculo a tempo de evitar uma queda ou colisão.
Especialista em mobilidade, Balassiano destacou que a regulamentação do Poder Público trará mais segurança.
Segundo ele, não se trata de “engessar” o modo de transporte, mas
evitar acidentes, uma vez que os patinetes alcançam velocidades muito
altas para serem usados nas calçadas. “Se atropelar um idoso, uma
criança ou uma gestante, a chance de acontecer um acidente grave é muito
alta. Por outro lado, nas ruas, a gente sabe que os carros e os ônibus
não respeitam nem as bicicletas, o que dirá os patinetes”, advertiu
Balassiano.
Na avaliação dele, o ideal é que os patinetes trafeguem em ciclovias ou ciclofaixas, juntamente com as bicicletas.
“O que precisamos é algum tipo de norma para esse veículo, para não
causar acidentes com terceiros ou mesmo com os usuários. O mais razoável
seria trafegarem, junto com as bicicletas, em faixas específicas e
ciclovias. Mas não é isso que acontece”, lamenta o professor.
“Na França, para alugar um patinete, é preciso ter uma carteira de
motorista, colocando um veículo que vai ter uma certa velocidade nas
mãos de quem já tem alguma ideia de como dirigir”, completou o
especialista, sugerindo o desenvolvimento de uma grande campanha
conjunta, entre o Poder Público e as empresas, de conscientização dos
usuários.
Mobilidade e segurança
Com quase 50 anos de profissão, o taxista Augusto César dos Santos
diz que falta respeito por parte das pessoas que andam de patinete no
centro do Rio de Janeiro. Eles se misturam ao pesado trânsito urbano das
vias centrais, ziguezagueando entre carros e ônibus.
“Eles andam na contramão, não respeitam a legislação, é uma coisa
horrível. Eu já tive diversos problemas de quase atropelar, pela
imprudência e imperícia deles, principalmente aqui no centro. Tem que se
tomar uma atitude, pois isso pode virar morte a qualquer momento”,
reclamou o taxista.
Consciente dos riscos e dos benefícios do patinete, a atuária Samara
Alce que trabalha no Centro do Rio diz que usa o modal para se deslocar
com mais rapidez pelas ruas, mas tem cuidado com a velocidade e não
trafega entre os carros.
“Eu tenho muito cuidado para usar o patinete. Quem sabe usar bem,
sabe qual o objetivo do patinete, não vai se meter em acidente. Só se
envolve em acidente quem quer se arriscar”, disse Samara, que já
utilizou quatro vezes o meio de transporte, mas sente falta de que seja
oferecido capacete aos usuários.
Para o estudante de direito Igor Santos, o patinete é seguro, desde
que se preste atenção ao terreno e se tenha o mínimo de habilidade. Ele
costuma usar o equipamento para integrar o transporte de barcas, na
Praça 15, com as estações de metrô na Avenida Rio Branco. “É tranquilo.
Eu pego daqui para a barca ou de lá para o metrô. É mais rápido”, disse
enquanto desbloqueava o equipamento – procedimento padrão feito com o
telefone celular, após um cadastramento prévio de dados, incluindo um
número de cartão de crédito, para debitar o valor do uso.
Em Brasília, o casal Rodrigo Lima Costa e Claudete Rodrigues
experimentou o equipamento pela primeira vez esta semana. Moradores do
Entorno do DF e casados há dez anos, eles resolveram usar os patinetes
para um momento de lazer, no Parque da Cidade.
“Eu vi um dia desses na rua e me perguntei porque uma pessoa deixava
um patinete ali. Depois ela me falou que existia o aplicativo e hoje
viemos experimentar. Vamos fazer uma experiência”, disse Rodrigo.
Usuário do serviço desde que ele começou na capital, o ex-servidor do
Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) Leonardo Dias disse que a
opção pelo patinete para lazer e pequenos deslocamento na cidade
coincidiu com o aumento no preço dos combustíveis.
“Eu tenho um carro que consome muito e o patinete serviu nessas horas
justamente pela economicidade e praticidade. Todo mundo fala sobre o
perigo de se andar no patinete, mas é muito tranquilo. Agora mesmo rodei
quase cinco quilômetros e deu R$ 12. Pela economia, eu indico”, afirmou
Leonardo, ressaltando a limitação dos patinetes para percorrer grandes
distâncias em razão da pouca autonomia de bateria.
Em entrevista à Agência Brasil, ele afirmou não ter vivenciado
problemas ao se deslocar de patinete para trabalhar, mas ressaltou que
os motoristas ainda não veem a alternativa como meio de transporte, mas
como equipamento de lazer.
O ex-servidor público disse ainda que, mesmo utilizando os patinetes
para se deslocar na cidade, não acredita na necessidade de
regulamentação do serviço. “As bikes vieram, mas logo depois vieram os
patinetes e tomaram conta. Muita gente, querendo ou não, está optando
pelo patinete quando o deslocamento é muito próximo. Mas como o serviço é
novo, não acho ainda necessária uma regulamentação”, afirmou.
Agência Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário