SE NÃO FOSSE O POVO...
“Nós temos abrigo, alimentação e água por causa dos amigos e
parentes. Quem está dando toda a assistência e ajudando com os donativos
é a população, e não a Prefeitura”. A crítica feita à Prefeitura de
Natal vem de Dirce Neide Góis, técnica em radiologia que está prestes a
ver a sua casa, em Mãe Luiza, descer cratera abaixo. Ela e mais centenas
de pessoas estão aguardando um posicionamento da Prefeitura em relação
às indenizações e pagamento de aluguéis, sem a certeza de quando
voltarão a ter uma vida normal.
Nesta sexta-feira (20) completa uma semana da tragédia que invadiu a
vida de diversas famílias na zona Leste de Natal. A cratera que se abriu
entre os bairros de Mãe Luiza e Areia Preta continua com resquícios
daquilo que seriam casas e móveis de famílias humildes, vítimas das
fortes chuvas que atingiram os sistemas de esgotamento sanitário e
drenagem da região.
Um novo deslizamento de terra que ocorreu ontem destruiu pelo menos
mais duas casas da Rua Guanabara e fez com que outros três imóveis
entrassem na área de risco. “Faz mais de um mês que um pequeno buraco
abriu nessa avenida. Era um vazamento da rede de esgoto. Ligamos
imediatamente para Caern e diversos órgãos da Prefeitura, mas nada foi
feito. Se eles tivessem feito o reparo quando avisamos, talvez não
estivéssemos nessa situação”, afirmou Dirce Neide.
“Isso tudo é resultado da negligência da Prefeitura. Minha casa ainda
não caiu porque a mão de Deus está segurando”, disse a técnica em
radiologia, moradora de Mãe Luiza há mais de 50 anos. “Todos os dias
venho observar como está a situação dessa cratera e a impressão que
tenho é de que não encontrarei mais a minha casa em pé. Enquanto isso,
os secretários da Prefeitura vão para a televisão dizer que estão dando
toda assistência a nós. Mentira deles”, disse.
Jailson de Oliveira, 41, é uma das pessoas que estão desalojadas em
função do risco em que a cratera se apresenta. Segundo ele, desde quando
teve que deixar a sua casa não recebeu nenhuma ajuda da Prefeitura de
Natal. “Quem está nos ajudando é a população, através das doações feitas
nas ONGs, igrejas e instituições de caridade. Fora as assistente
sociais que fizeram o cadastramento das famílias prejudicadas, ainda não
vi ninguém da Prefeitura de Natal fazendo algo”, afirmou.
A desassistência é tanta que, segundo Jailson, à noite “os vândalos
aproveitam para saquear as casas”. “Estou na casa da minha sogra, na Rua
Atalaya, que também está com casas em situação de risco. Nós não
conseguimos dormir com medo de um novo desastre ou de saber que nossos
bens foram tomados. Não posso ficar na minha casa, não posso retirar
meus bens, nem posso ir para outro lugar seguro”.
Zilma Matias de Souza, 57, vive de aluguel em uma casa na Rua Atalaya
há mais de dez anos. Desalojada, ela está recorrendo à ajuda da
ex-patroa e de amigos que se solidarizam na doação de mantimentos e de
um lugar para dormir. “Nesse momento, o que eu mais queria, era a ajuda
da Prefeitura para retirar meus móveis daqui para não correr o risco de
perdê-los. Na segunda-feira passada eles ficaram de enviar um caminhão
para recolher tudo e deixar na casa da minha ex-patroa e até agora nada.
Eu queria poder salvar o pouco do que tenho nessa vida”, desabafou.
Após dias sem água e sem energia elétrica, as residências de Mãe Luiz
estão aos poucos voltando a receber esses serviços. Entretanto, o
comprometimento de inúmeras casas gera medo a um grupo cada vez maior de
pessoas. “Nós, que estamos aqui diariamente, sabemos que ainda corremos
muito risco. Gostaria que o prefeito Carlos Eduardo cumpra o que
prometeu e nos ajude com o pagamento de alugueis. Não podemos esperar
mais nada”, disse Zilma Matias.
Drenagem provisória
Na tarde de ontem (19), a Secretaria de Obras Públicas e
Infraestrutura (Semopi) começou a aterrar a cratera com a própria areia
proveniente dos deslizamentos de terra. O objetivo é fazer uma drenagem
provisória e evitar que o terreno sofra mais erosão. Além de mais duas
casas que sofreram desmoronamento com o novo deslizamento de ontem, a
terra ainda soterrou dois carros que passavam pela Avenida Governador
Sílvio Pedrosa, em Areia Preta, sendo um deles ocupado por turistas
chilenos. Não houve registro de feridos.
De acordo com a Semopi, o município de Natal tem o prazo de seis
meses, dado pelo Ministério da Integração, para executar os projetos de
recuperação da área atingida entre Mãe Luiza e Areia Preta. Segundo
Walter Fernandes, secretário-adjunto da Semopi, o serviço de aterro vai
possibilitar maior estabilidade da área e facilitar o desvio da água
pluvial, levada até o local pelo sistema de drenagem, para cair sobre as
lonas estendidas.
“Neste momento estamos realizando a chamada Ação de Resposta para
conter dos danos causados pelos deslizamentos de terra. Após análise dos
relatórios que estão sendo feitos por geólogos encaminhados pelo
Ministério da Integração, teremos condições de iniciar o projeto de
reabilitação da área, dando
procedimento à Ação Definitiva”, explicou.
“Ainda não temos como mencionar qual será o custo para tudo isso”, disse
Walter Fernandes. No final da manhã de hoje, o ministro da Integração
Nacional Francisco José Coelho Teixeira esteve ao lado do prefeito
Carlos Eduardo visitando as áreas atingidas pelo deslizamento.
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