segunda-feira, 16 de junho de 2014

Mãe Luiza e Areia Preta cobram ações que evitem novos deslizamentos. Moradores do Aldebaran tiveram que contratar uma empresa para escoar água que invadiu o prédio

CADÊ OS POLITICOS
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Carolina Souza
acw.souza@gmail.com
Em meio à Copa do Mundo, que tem a capital potiguar como uma das cidades-sede dos jogos, Natal foi submergida por um desastre provocado por chuvas intensas que incidiram na cidade desde sexta-feira (13). Dezenas de famílias que moram em áreas de risco de Mãe Luiza e nas áreas nobres de Areia Preta, bairros da zona Leste, presenciaram casas desmoronarem. Outras dezenas de famílias de ambos os bairros tiveram que abandonar seus lares por medida preventiva. Três dias depois, nesta segunda-feira (16), ainda não há perspectiva de mudança.
Os inúmeros transtornos e prejuízos causados aos natalenses foram mais críticos em Mãe Luiza. Problemas causados nos sistemas de esgotamento sanitário e drenagem da região levaram a um ‘infindável’ deslizamento de terra, que só estagnou quando as chuvas resolveram dar uma trégua na manhã de ontem. Na Rua Guanabara, uma das mais movimentadas do bairro, cerca de 40 casas foram enquadradas na situação de desmoronamento ou risco de desabar nos próximos dias.
José Inácio, 47 anos, foi um dos que viram suas casas – ou parte delas – irem embora com a chuva. “Estava trabalhando quando me ligaram informando sobre esse desastre. Minha preocupação no momento foi salvar a minha mãe. Quando cheguei, com a graça de Deus, ela já havia sido retirada. Porém, minha casa ficou repartida ao meio”, disse José. “Do jeito que cheguei tive que ir embora. Apenas com a roupa do corpo”.
A maior reclamação de José Inácio e de todos os moradores de Mãe Luiza é que esse problema já vinha sendo pressentido há muitos anos. “Não é a primeira vez que uma cratera se abre na Rua Guanabara. Não esperávamos que essa tragédia, de tamanha proporção, viesse acontecer. Mas se a Prefeitura e os ‘entendidos no assunto’ tivessem com vontade de resolver nosso problema, isso teria sido evitado. Dava para pressentir”, disse José, que precisou reabrir uma casa antiga da família para se abrigar e dar abrigo a mais cinco famílias prejudicadas.
Enquanto a reportagem do Jornal de Hoje esteve na área próxima à cratera, na manhã de hoje, não foi visto um único profissional que estivesse iniciando os trabalhos de reparação aos danos. Foram vistas no local apenas duas viaturas da Polícia Militar e membros da Semob orientando os moradores a não invadirem a área interditada.
Segundo os próprios moradores, desde sexta-feira que não são adotadas ações de reparação aos danos. A justificativa do Corpo de Bombeiros e da Defesa Civil, por exemplo, é de que os trabalhos para evitar mais deslizamento de terra e desmoronamento só podem ser iniciados sem chuvas. Entretanto, desde a manhã de domingo (15) que não se vê uma gota de água caindo do céu em Natal.
“É incrível como as autoridades deixam essa situação assim. O tempo vai passando, os riscos vão aumentando e a gente cada vez mais sem esperança”, disse o pescador Sebastião Nascimento, que mora em Mãe Luiza há 50 anos.
“A primeira vez que abriu uma cratera aqui foi em 1996. De lá para cá enfrentamos o mesmo tormento por mais duas vezes. Agora, pela quarta vez, chegamos a essa situação. E olhe que ainda estamos no lucro, pois nenhuma pessoa morreu. Será isso que as autoridades estão esperando? Será que alguém precisa morrer para eles resolverem esse problema de vez”, questionou Sebastião. “Nós não temos mais a quem recorrer, infelizmente”.
Muitas famílias afetadas pela tragédia em Mãe Luiza tiveram que recorrer abrigo aos amigos e familiares. Quem não tinha a quem pedir socorro, contou com a ajuda da Secretaria Municipal de Trabalho e Assistência Social (Semthas) e de outros órgãos municipais, que organizaram espaços públicos para acolhimento das famílias afetadas. A Escola de Municipal de Santos Reis, no bairro Santos Reis, é um desses espaços. Lá, Djackson Rosendo, 27, encontrou abrigo para seus familiares.
“Minha casa não chegou a desabar, mas está perto disso. Na sexta-feira, por volta de 22h, fomos surpreendidos pela Defesa Civil, que nos mandou sair o mais rápido possível. No momento eu não sabia o que estava acontecendo e ainda não sei o que será da gente. Só nos resta esperar por alguma resposta da Prefeitura”, disse. A família de Djackson e outras três famílias estão sobrevivendo de doações feitas por agentes voluntários.
Além da Escola Santos Reis, creches, uma igreja e um núcleo de Assistência Social de Mãe Luiza estão recebendo famílias desabrigadas e donativos, entre alimentação, roupas, colchões, água, ventiladores e sacos plásticos.
Predio-JA
Residências evacuadas
Os edifícios Aldebaran e Infinity, em Areia Preta, e outras 50 casas na região também de Mãe Luiza, precisaram ser evacuados de forma preventiva por causa das fortes chuvas e as conseqüências do deslizamento de terra. Em Areia Preta, o trânsito em um trecho na Avenida Governador Silvio Pedroza, que compreende a fachada de ambos os edifícios mencionados, está bloqueado desde sexta-feira passada.
Os moradores desses edifícios também tiverem que abandonar seus apartamentos, sem perspectiva de quando poderão voltar a utilizá-los. Apesar de o risco não ser tão grave quanto o verificado em Mãe Luiza, eles deverão permanecer longe de suas residências até que haja uma autorização oficial de retorno por parte das autoridades.
Esses prédios residenciais acabaram recebendo boa parte da terra que cedeu em Mãe Luiza. Sem acesso de carros e com dificuldade para o trânsito de pessoas, os moradores estão indo aos poucos aos apartamentos e recolhendo o que pode ser carregado nos braços. De acordo com informações apuradas no local, boa parte das famílias estão hospedadas em casas de familiares e de amigos próximos.
O problema com relação ao gerenciamento da crise instalada com as fortes chuvas também é reclamação dos moradores de Areia Preta. No edifício Aldebaran, por exemplo, os residentes tiverem que contratar uma imunizadora para conseguir escoar a água que entrou nas dependências do prédio. Ontem, alguns homens tiveram que diminuir o nível da areia com as próprias mãos, sem auxílio de trator, para dar condições dos carros saírem da garagem do prédio. Até a manhã desta segunda-feira também não foi visto nenhum órgão trabalhando em Areia Preta.

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