A Odebrecht fez doações para presídios da região metropolitana de Curitiba num período de cerca de dois anos, enquanto o ex-presidente da empreiteira Marcelo Odebrecht esteve detido no Complexo Médico Penal (CMP), em Pinhais. O GLOBO confirmou as informações que foram antecipadas pelo jornal “Folha de São Paulo” nesta quarta-feira.
A primeira doação da empreiteira ocorreu no inverno de 2015, quando Marcelo Odebrecht ficou detido no CMP. Na ocasião, a empreiteira destinou 700 cobertores para todos os presos da cadeia, onde também ficou detido na ocasião o ex-ministro José Dirceu e o ex-tesoureiro do PT, João Vaccari, entre outros presos da operação Lava-Jato.
O dinheiro foi repassado pela empreiteira por meio do Conselho da Comunidade de Curitiba, que é vinculado ao sistema penitenciário e que atua em 11 presídios do Paraná por meio de ações de fiscalização e pela garantia da integridade dos detentos. O órgão, que é integrado por membros da sociedade civil que são voluntários, existe há três anos no Paraná e sua criação está prevista ne lei de execuções penais.
A advogada aposentada Isabel Mendes, que preside o Conselho, afirmou que a Odebrecht fez “três ou quatro” doações de R$ 5 mil por meio de depósitos identificados. Ela afirmou que os repasses foram registrados e que o conselho prestará contas ao Tribunal de Contas do Estado.
— Conheci o Marcelo numa das visitas que fazemos com frequência aos presos. Quando ele (Marcelo) chegou ao CMP era um inverno rigoroso. Ele se interessou pelo trabalho e a assessoria da Odebrecht nos procurou perguntando se poderíamos receber a doação de 700 cobertores (a custo de R$ 15 cada um) — contou a presidente do Conselho.
Ela reiterou que o órgão tem atribuição legal de receber doações de empresas e que essas são revertidas em benfeitorias para os presídios. Mendes disse que nenhuma outra empresa de presos da Lava-Jato, como OAS, UTC e Andrade de Gutierrez, se interessaram em contribuir com o órgão.
— O Otávio Azevedo (ex-presidente da Andrade Gutierrez) também conversou com a gente, mas não doou. O Léo Pinheiro (ex-presidente da OAS) sempre foi muito simpático, assim como o ex-deputado Eduardo Cunha. Mas nunca houve interesse da parte deles dois em ajudar o conselho — contou Isabel Mendes, acrescentando:
— Não se pode criminalizar as doações aos presídios. Podemos receber legalmente. Ontem entreguei um cheque de R$ 9 mil para comprar livros e cadernos para presos que fazem o Enem. Nem o básico o estado fornece. O que fazemos é fiscalizar os presídios para ajudar a melhorar as condições.
O conselho chegou a comprar nove geladeiras para o complexo de Pinhais, onde estavam presos da Lava Jato. No entanto, Isabel Mendes nega que a compra tenha ocorrido por meio dos recursos da Odebrecht. Ela disse que o dinheiro recebido da empreiteira foi aplicado em melhorias de todos o sistema penitenciário e não somente do CMP.
DEPEN DISSE QUE DESACONSELHOU DOAÇÕES
O diretor do Departamento Penitenciário do Paraná (Depen), Luiz Alberto Cartaxo, disse desconhecer as doações da Odebrecht aos presídios. Cartaxo afirmou que desaconselhou a presidente do Conselho a aceitar repasses de empresas de presos da Lava-Jato.
Isabel Mendes disse não lembrar do pedido de Cartaxo. O diretor do Depen esclareceu que recebe as doações do Conselho, mas que não verifica a origem dos recursos.
A última doação feita pela Odebrecht ao conselho ocorreu no final de setembro para viabilizar o encontro estadual dos conselhos da comunidade no Paraná. O evento aconteceu no Museu do Olho, projetado por Oscar Niemeyer, entre os dias 22 e 25 de setembro.
Marcelo Odebrecht está preso na carceragem da PF em Curitiba. Ele deve sair da cadeia no dia 19, quando passará a cumprir prisão domiciliar.
Procurada pela reportagem, a Odebrecht ainda não se pronunciou sobre o assunto.
O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário