quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Vacina contra cocaína criada na UFMG será testada em humanos

Os testes em humanos para desenvolver uma vacina capaz de tratar os dependentes de cocaína podem começar no primeiro semestre do ano que vem, com base nos últimos estudos realizados por cientistas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
A previsão é do professor adjunto de psiquiatria da UFMG Frederico Duarte Garcia, que estuda a vacina junto com o professor Ângelo de Fátima, do Departamento de Química Orgânica. A pesquisa foi noticiada com exclusividade por O TEMPO em setembro de 2016.
“Estamos terminando os testes de segurança, que apontam que a medicação é segura em animais, e vamos pedir o registro à Agência Nacional de Vigilância Sanitária para podermos fazer os testes em humanos no primeiro semestre do ano que vem”, afirmou nessa terça-feira (24) o professor adjunto de psiquiatria da UFMG.
Com o término dos testes em animais, caso os testes clínicos sejam bem-sucedidos, a vacina estará disponível no mercado em, no máximo, três anos, projeta Frederico Garcia. A previsão anterior era um prazo de dez anos.
O estudo conseguiu sintetizar uma nova molécula que leva o organismo a fabricar anticorpos específicos contra o entorpecente. Os anticorpos produzidos modificam a farmacocinética (percurso) da cocaína, reduzindo de 75% a 90% a fração livre da droga na corrente sanguínea.
Em junho a pesquisa chegou a correr o risco de ser paralisada por falta de financiamento, além de obstáculos burocráticos como falta de editais. Na primeira fase, o projeto custou R$ 40 mil, sendo que R$ 30 mil foram obtidos por financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e R$ 10 mil de recursos do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações.
Mas, para finalizar as etapas de segurança e eficácia, os cientistas dependiam de recursos em torno de R$ 300 mil e R$ 500 mil, respectivamente, recursos que, finalmente, foram obtidos.
De acordo com boletim divulgado pela universidade, na fase de testes realizados com roedores, os pesquisadores perceberam que quantidades menores da droga chegaram ao cérebro dos animais vacinados. Os ratos que foram vacinados, quando receberam uma dose da droga, não perceberam o efeito dela e, com isso, não ficaram “desinibidos” ou “agitados” como o grupo que recebeu o placebo – substância inativa.
Experimentos com primatas devem começar nos próximos meses. O grupo vai avaliar a toxicidade e a segurança da vacina, observando possíveis efeitos colaterais. Depois, será iniciado o protocolo de testes em humanos, última etapa para que a vacina possa ser comercializada.
Os pesquisadores também já deram entrada no processo de registro da medicação. Segundo a UFMG, a patente já foi depositada pela Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica (CTIT).
Uso da droga no país preocupa
O consumo de cocaína no Brasil já é quatro vezes a média mundial, segundo o Escritório de Drogas e Crimes da Organização das Nações Unidas. Além disso, o uso de drogas como maconha e cocaína em Belo Horizonte vem superando os indicadores do país. A cada cem belo-horizontinos, 16 enfrentam problemas ligados à dependência química – são 408 mil pessoas, sendo que, desses, 303,9 mil consomem bebidas alcoólicas; 69,7 mil usam maconha e 29,8 mil, cocaína, conforme os dados da pesquisa Conhecer e Cuidar, feita em 2015 pela UFMG.
O Tempo

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