terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Alemanha já trata atropelamento como terror oficialmente; 12 mortos


Policiais investigam local onde caminhão avançou sobre multidão em mercado de Natal de Berlim – FABRIZIO BENSCH / REUTERS

A chanceler alemã Angela Merkel afirmou nesta segunda-feira que o atropelamento que matou 12 pessoas em um mercado de Berlim está sendo oficialmente tratado como um ataque terrorista. Os investigadores interrogam um suspeito de dirigir o caminhão que avançou sobre o mercado de Natal e já haviam reforçado mais cedo a suposição de que o este foi um ato deliberado. Forças especiais de segurança também fizeram uma operação de busca em um abrigo para refugiados da capital alemã durante a madrugada. Até o momento, nenhum grupo reivindicou a autoria do ataque, que deixou ainda 48 feridos, dos quais 18 estão em estado crítico.

Nesta manhã, Merkel agradeceu o trabalho dos socorristas e expressou profunda tristeza pelo que chamou de um ato horrível. E ainda disse que visitará o local atingido pelo caminhão com o prefeito de Belim, Michael Müller, e o ministro do Interior, Thomas de Maizière, após se reunir com o seu gabinete.

— Esperamos que as pessoas se recuperem e possam continuar a viver depois deste dia horrível. Com base nas informações que temos, nós acreditamos que este foi um ataque terrorista. Este episódio indescritível será severamente punido de acordo com as nossas leis — declarou a chanceler em um pronunciamento televisionado.

Maizière confirmou os relatos de que o suspeito de dirigir o caminhão que avançou sobre a multidão era provavelmente um refugiado de origem paquistanesa. Sem dizer o seu nome, ele disse que o suspeito chegou à Alemanha em dezembro do ano passado e, em fevereiro, a Berlim. Ele chegou a se registrar para pedir abrigo no país, mas o processo não chegou a ser completado, segundo o ministro, e agora nega as acusações de responsabilidade pelo ataque.

Segundo o jornal alemão “Bild”, o motorista suspeito de dirigir o caminhão tinha 23 anos e foi identificado como Naved B. O jovem, de origem paquistanesa, teria chegado à Alemanha há cerca de um ano pela rota dos Bálcãs. Ele não estava na mira de forças de segurança por atividades suspeitas ou possíveis conexões extremistas. Nesta terça-feira, os investigadores alemães interrogam o suspeito, que foi recapturado após mas sem oferecer mais detalhes sobre a sua identidade.

— Estamos interrogando um suspeito. Nós ainda não sabemos nada, mas não vamos descansar até que isto tenha sido totalmente esclarecido. Não quero falar sobre um ataque, embora haja muitos pontos para ele — disse, mais cedo,Thomas de Maizière.

MERKEL SOB PRESSÃO

Enquanto o atentado aumenta o clima de tensão na Europa, que viveu uma série de ataques terroristas nos últimos meses, a chanceler reconheceu que seria particularmente difícil para o país se o atentado tiver sido cometido por um refugiado. Líderes populistas europeus já se pronunciaram sobre a história, com fortes declarações anti-imigração — e, inclusive, responsabilizando Merkel pelo atentado, uma vez que seu governo abriu as portas do país aos refugiados frente à grave crise migratória do ano passado.

— Eu sei que seria particularmente difícil de aceitar para todos nós se fosse confirmado que a pessoa que cometeu este crime pediu proteção e abrigo na Alemanha. Isto seria particularmente repulsivo frente aos muitos, muitos alemães que se dedicaram dia após dia para ajudar refugiados e frente às muitas pessoas que precisam da nossa proteção e tentam se integrar ao nosso país — disse Merkel.

A chanceler também já sofre pressão entre os seus aliados por mudanças na sua política migratória. Após o ataque, ressoam pedidos para que sejam reformulados os procedimentos de segurança e de recepção a refugiados entre os conservadores da coalizão da chanceler.

— Nós devemos isso às vítimas, àqueles que foram afetados (pelo ataque) e a toda a população: repensar a nossa política de imigração e segurança após o ataque — disse Horst Seehofer, líder da União Social Cristã (CSU), partido bávaro irmão dos democratas-cristãos (CDU), de Merkel

Como parte da investigação, uma unidade especial da polícia alemã fez uma operação de busca em um abrigo para refugfiados em Berlim, onde o suposto motorista do caminhão havia sido registrado. A operação aconteceu às 04 horas da manhã (horário local) desta terça-feira, cerca de oito horas após o caminhão avançar sobre o mercado. No local vivem cerca de 2 mil refugiados e ninguém foi preso. Os investigadores apreenderam apenas um laptop e um telefone celular.

VÍTIMA MORTA A TIROS

Dentre os 12 mortos, está um homem encontrado dentro do caminhão e identificado como cidadão polonês. A polícia alemã afirmou que ele não estava dirigindo o veículo no momento do ataque ao mercado popular. Nesta terça-feira, ficou confirmado que ele foi morto a tiros, mas a arma do crime não foi encontrada.

— Entre as vítimas está uma pessoa que foi assassinada a tiros — informou o ministro do Interior do estado regional vizinho de Berlim, Karl-Heinz Schroeter. — Trata-se de um cidadão polonês que é uma vítima e não um agressor.

O caminhão invadiu a feira de Natal em frente à igreja luterana Gedächtniskirche, um memorial mantido da Segunda Guerra Mundial. Uma foto publicada pelo “Morgenpost” mostra mesas e cadeiras danificadas.

O site “Visit Berlin” descrevia o mercado da Breitscheidplatz como ponto ideal para encontrar “artesanato, decorações de Natal, roupas de inverno, brinquedos para crianças e acessórios cuidadosamente concebidos”. Além disso, segundo o site, há pequenos carrosseis que “iluminam os olhos das crianças e acrescentam um charme nostálgico ao mercado”.

O veículo pertence a uma empresa da Polônia e está registrado na cidade polonesa de Gdansk. O dono da empresa, identificado apenas como Ariel Zurawski, disse em entrevista à rádio TVN24 que seu primo esteve viajando a Berlim no caminhão envolvido no acidente e que ele passaria a noite na cidade.

TENSÃO NA EUROPA

A tragédia da noite de segunda-feira reflete um clima de insegurança na Alemanha e em toda a Europa em relação a possíveis atentados terroristas. Há apenas três dias, na última sexta-feira, um menino de 12 anos com ascendência iraquiana foi detido em Ludwigshafen, no oeste da Alemanha, por suspeita de ter planejado dois atentados em centros comerciais lotados devido às compras de Natal. Nas duas tentativas, de acordo com investigadores, o menino tentou depositar uma mochila repleta de explosivos – na primeira vez ela não explodiu, e na segunda o rapaz foi descoberto por um transeunte. Segundo as autoridades, o menino foi radicalizado por um membro do Estado Islâmico. Além disso, em novembro, o Departamento de Estado dos EUA havia afirmado ter “informações críveis” sobre elevado risco de ataques em países europeus no período de festividades de fim de ano.

No entanto, as autoridades buscaram tranquilizar a população e disseram não haver indícios de outras situações perigosas na região, mas pouco depois bloquearam uma rua nos arredores do mercado, chamada Rankestrasse, para “investigar um item suspeito” – que acabaria sendo identificado como um saco de dormir. Mais tarde, de acordo com o “Jornal Nacional”, houve nova correria nos arredores do mercado e mais uma pessoa foi presa – sua identidade não foi divulgada.

Merkel na segunda-feira afirmou estar de “luto”, lamentando as mortes confirmadas até o momento, e marcou uma reunião em caráter de urgência com o ministro do Interior, Thomas de Maizière, e com o prefeito de Berlim, Michael Müller, para tratar de detalhes do caso.

O presidente da França, François Hollande, se manifestou em suas redes sociais sobre o ocorrido, expressando “solidariedade e compaixão à chanceler Merkel, ao povo alemão e aos familiares das vítimas de Berlim”. Já o líder do partido alemão de extrema-direita AfD, Marcus Pretzell, tentou colocar a tragédia como responsabilidade da chanceler alemã e referiu-se aos mortos como “vítimas de Merkel”.

O Globo

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