CARÊNCIA
Marcelo Lima
Repórter
No país do futebol, tentar utilizar um serviço público no dia de joga da seleção brasileira na a Copa do Mundo poder ser uma falta grave. Na Central do Cidadão é assim. Um serviço que já foi de excelência, atualmente submete a quem necessita a passar por um atendimento pouco digno a qualquer cidadão.
Quem sofre essa realidade é o orientador turístico Walisson Dantas da Silva, de 19 anos. Na manhã desta sexta-feira (4), ele tentava pela terceira vez conseguir fazer a primeira via da Carteira de Identidade (Registro Geral). O orientador turístico saiu de 5h20 da manhã de ônibus da praia de Barreta, em Nísia Floresta, distante 42 quilômetros de Natal. Sua chegada na fila se deu por volta das 6h30, na Central do Cidadão do shopping Via Direta.
O pior é que Walisson da Silva precisa do documento para ser admitido definitivamente no emprego. “O pessoal de lá pensa que é corpo mole essas coisas”, disse. A primeira via do documento é gratuita, mas no box de Instituto Técnico e Científico de Polícia (Itep-RN), que fornece o documento, somente 15 fichas seriam entregues em função do jogo da seleção brasileira.
Sem nenhum receio de reforçar os estereótipos sobre as deficiências do serviço público brasileiro, a Central do Cidadão do Via Direta fixou vários cartazes na fachada com uma informação que pouco agradou quem já estava cansado que ir ao local e não conseguir ser atendido. “Devido ao jogo do Brasil, o horário de funcionamento será reduzido 9h às 12h, fica determinado o número de senhas conforme o quadro: DETRAN – 50; Itep 1ª via – 15; Itep 2ª – 15; Sine 05 (desemprego)”, comunicavam os cartazes.
Por volta das 8h30 da manhã de hoje, já havia cerca de 70 pessoas na fila. Quem fez companhia ao orientador turístico foi o recepcionista de hotel Diógenes Dantas Soares, de 27 anos. Ele foi assaltado e teve a carteira de identidade levada. Caso a antiga Central do Cidadão de Ponta Negra ainda estivesse funcionando, ele nem precisaria se deslocar para outro bairro na tentativa de conseguir o documento.
“Só tem essa opção mesmo. Lá no Itep deve ser pior ainda. Você passa o dia todo aqui na fila e aí não tem ficha suficiente para você ser atendido. E ainda tem pessoas que vendem o lugar na fila”, criticou o recepcionista que também estava na Central pela terceira vez.
Ele tirou a primeira via da sua carteira de identidade na Central do Cidadão de Parnamirim, onde o serviço foi extinto, assim como na unidade de São José de Mipibu. “Para ele, seria muito melhor fazer em São José porque fica mais perto”, referiu-se ao colega de trabalho Walisson. Na Grande Natal, também há centrais do cidadão em Macaíba e Ceará-mirim.
Outra reclamação comum é a precária qualidade de atendimento dos servidores. “Parece que eles são obrigados, que a gente está pedindo um favor. Essa situação toda é horrível porque a gente tem um gasto demasiado para vir aqui várias vezes. Tem pessoas que precisam trabalhar. É um desrespeito com a gente”, revoltou-se Diógenes Soares.
Sejuc responde
O secretário de Justiça e Cidadania, Júlio César Queiroz, reconhece que há dificuldades de pessoal e outras que levaram a fechar as Centrais do Cidadão da Cidade Alta e do Praia Shopping. No caso do serviço de fornecimento de Carteira de Identidade, ele preferiu não analisar a situação. “Talvez quem vá fazer essa avaliação melhor seja o próprio Itep”, disse, reiterando que cada órgão é responsável pelo seu serviço dentro de cada unidade da Central.
Já para entrada do seguro desemprego, ele acredita que o fechamento das duas centrais citadas anteriormente não interferiu. “Vários postos que faziam o seguro desemprego fechado. Na Prefeitura, na Caixa Econômica, no Sine”, justificou. Amanhã, haverá um mutirão do Sine para atender as pessoas que precisam dar entrada no seguro desemprego.
Sobre a questão de pessoal, o secretário tem uma proposta que ainda está em tramitação na administração estadual. “A nossa proposta é criar um corpo de estagiários nas mais diversas áreas. É menos oneroso para o Estado e iria oxigenar as centrais”, disse.
As Centrais do Cidadão sempre funcionaram com servidores cedidos de outros órgãos desde sua criação, em 1997, no governo Garibaldi Alves Filho. Segundo o secretário, nunca foram criados legalmente cargos próprios para esse órgão, o que gera a impossibilidade de concurso público.
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