ATÉ QUANDO?
Alessandra Bernardo
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Insatisfeitos com o resultado do dissídio coletivo da categoria, julgado ontem pelo Tribunal Regional do Trabalho (TRT), os rodoviários paralisaram toda a frota de ônibus urbanos de Natal na manhã desta quarta-feira (25). Eles cruzaram os braços em frente às garagens das empresas de transporte público, impedindo a saída dos veículos desde às 5h30 e afirmaram que só retornam ao trabalho após os empresários negociarem o valor do reajuste do auxílio-alimentação e não descontarem os 13 dias de greve.
Segundo o diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Rodoviário do Rio Grande do Norte (Sintro/RN), Waldir de Brito, a categoria ficou insatisfeita e indignada com a decisão judicial, que além de ter decretado a ilegalidade da greve e o desconto em folha dos dias paralisados, concedeu reajuste salarial de 7,32% e aumento de apenas R$ 10,00 ao mês no auxílio-alimentação, o que equivale a R$ 0,33 ao dia.
“Não estamos contra a justiça, mas queremos sentar com os empresários e renegociar alguns pontos que são injustos, como a questão do vale-refeição e o corte dos pontos, já que cumprimos as decisões anteriores de colocar os 70% da frota nos horários de pico e 50% nos demais e também mantivemos 100% nos dias de jogos. Se os empresários aceitarem a negociação e acatarem, toda a frota de ônibus de Natal voltará para as ruas”, afirmou.
Apesar dele confirmar os percentuais, o relatório elaborado pela Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (Semob), na semana passada, revelou que a categoria não respeitou os percentuais mínimos determinados pela justiça, o que resultou em uma multa no valor de R$ 150 mil por abuso. A reportagem de O JORNAL DE HOJE tentou ouvir os titulares do órgão, sem sucesso.
Waldir explicou ainda que o aumento de 7,32% (sendo 5,82% de reposição da inflação e 1,5% apenas de ganho real) fará o salário passar de R$ 1.421,25 para R$ 1.557,48 e o reajuste de apenas R$ 10,00 no auxílio-alimentação será de R$ 207,00 para motoristas e R$ 147,00 para cobradores. Além disso, o TRT decidiu ainda pela permanência da dupla-função de motorista e cobrador em metade da frota de 620 ônibus, com o pagamento de um abono salarial de apenas 2,5% para os rodoviários que exercerem as duas funções.
“O fim da paralisação desta quarta-feira só depende dos empresários. Se eles aceitarem se reunir com a categoria e discutir as nossas reivindicações, toda a frota volta para as ruas. A decisão de ontem foi uma grande injustiça com os trabalhadores, porque só beneficia os empresários. Vamos ficar esperando aqui fora, até que eles nos acenem uma negociação”, afirmou Brito.
Passageiros sofrem sem ônibus
Enquanto dura a queda de braço entre empresários e rodoviários, a sociedade sofre com a falta de transporte coletivo nas ruas de Natal. Com 100% da frota parada, resta aos passageiros usarem os serviços de veículos fretados e alternativos que fazem o percurso das linhas urbanas. Muitos usuários também aproveitaram os itinerários de ônibus intermunicipais, que rodam dentro de Natal, para poder se locomover pela cidade.
Mas, apesar disso, foi grande o número de pessoas que perderam seus compromissos ou chegaram atrasados, como a comerciária Rayane Antunes, que conseguiu chegar ao trabalho após quase duas horas de espera. Ela disse que isso só foi possível graças a duas caronas que recebeu, entre sua residência, na Avenida Ayrton Senna e o shopping Via Direta e de lá para o emprego, em Candelária.
“Não sabia que teria essa paralisação total, fui pega de surpresa e quase não consigo sair de casa. Conversei por telefone com outros colegas de trabalho e eles me disseram que muita gente não pode ir, mas como consegui essas duas caronas, vou para lá, preciso trabalhar. Mas já faz duas horas que tento chegar lá”, disse.
A mesma situação foi vivida pelo fotógrafo Ravaneli Mesquita, que chegou de Mossoró e aguardava um ônibus para a Zona Norte. “Os ônibus urbanos já não suprem a necessidade dos passageiros em Natal, e com paralisação então, fica muito difícil. Eu pensei que estivesse tudo normal e fui pego de surpresa. Infelizmente, o jeito é conseguir um alternativo até chegar em casa”, disse.
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