quinta-feira, 19 de junho de 2014

Famílias limpam casas inundadas por transbordamento. Moradores do entorno da Lagoa de São Conrado há anos lutam para receber indenização por prejuízos

LAGOA DE SÃO CONRADO
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Alessandra Bernardo
alessabsl@gmail.com
Os moradores das ruas próximas à lagoa de captação São Conrado, que transbordou na noite do último sábado (14) e inundou várias residências e estabelecimentos comerciais no bairro de Dix-Sept Rosado, zona Oeste de Natal, começaram a retornar para os imóveis e contabilizar os prejuízos. Muitos perderam tudo o que tinham e culpam a Prefeitura de Natal e a empresa responsável pelas obras de drenagem do entorno do Arena das Dunas pelo desastre. Eles denunciaram ainda que até hoje nunca receberam qualquer indenização pelas inundações anteriores e não foram procurados pelas equipes do município, para cadastro das famílias atingidas.
“Ganhamos várias ações judiciais, coletivas e individuais contra a Prefeitura desde a enchente de 1995, mas até hoje nunca recebemos um centavo sequer de indenização, porque ela sempre recorre, ganhando tempo. Tudo o que perdemos todos esses anos saiu do nosso próprio bolso e ano após ano, enfrentamos a mesma situação, ou seja, comprando com muito trabalho os nossos objetos de casa e perdendo tudo porque ninguém resolve o problema de transbordamento dessa lagoa”, desabafou o morador Heron de Lima.
Moradora da Avenida Lima e Silva há quase 30 anos, a família de Severina Farias também perdeu tudo dentro da residência, que ficou quase totalmente submersa. Emocionada, a aposentada disse que nos anos anteriores, suas irmãs conseguiam salvar móveis, eletrodomésticos e objetos pessoais colocando-os pendurados no telhado, mas a inundação deste final de semana surpreendeu a todos pela força, rapidez e o nível da água, que chegou a dois metros de altura.
“Sempre entrou água aqui, mas dessa vez foi muito pior, porque chegou no teto, não deu para salvar nada. A casa secou apenas hoje pela manhã, quando pudemos entrar e constatar perda total em tudo, até os nossos documentos pessoais e livros escolares foram perdidos. Já entramos com várias ações na justiça, todas com causa ganha, mas eles recorrem para não pagar e assim vamos vivendo. É um dinheiro que não sai nunca, já perdemos tudo várias vezes e nunca resolvem o problema dessa lagoa”, disse.
Moradores reclamam de bombas retiradas
Para os atingidos pelo desastre, a culpa pela situação é dividida entre a empresa que faz a drenagem do entorno do Arena das Dunas, que direciona toda a água vinda do lençol freático atingido durante as obras para a lagoa de captação, e a Prefeitura, que retirou as bombas de sucção do local na semana passada, antes da chuva que causou o transbordamento da São Conrado.
“Contribuiu muito para o fato e eles sabiam que isso podia acontecer, mas mesmo assim assumiram o risco e tiraram as bombas. Agora, vão ficar fugindo da responsabilidade. Quando começou a chover na sexta-feira, a lagoa já estava cheia com a água das obras de drenagem e sem as bombas, aí aconteceu o que nós vimos e atingiu até mesmo áreas que nunca tinham sido alagadas antes”, explicou Edivan Barbosa. Na casa dele, a água chegou um metro e meio de altura.
Ontem, após o nível da água da lagoa ter baixado, os moradores puderam ter acesso às residências e, em protesto, muitos jogaram os móveis e objetos danificados no meio da Avenida Interventor Mário Câmara, para mostrar o que tinham perdido. O material, que formou duas montanhas no meio da via, foi recolhido pela manhã por equipes da Prefeitura, que usou caminhões caçamba para o serviço.
“Ficamos só com a roupa do corpo, porque até os documentos pessoais foram perdidos, junto com a nossa dignidade, cidadania e moradia. Estamos espalhados nas casas de parentes e amigos e não recebemos até agora nenhum comunicado e também não fomos procurados por ninguém da Prefeitura para cadastro algum, como o que eles estão fazendo com o pessoal de Mãe Luíza. Ninguém quer saber da gente, do nosso sofrimento”, desabafou Anchieta Rodrigues.
MEDO É DE SAQUEADORES
Além da inundação pelas águas sujas da lagoa de captação, que está causando doenças respiratórias e de pele para muitos, as famílias atingidas agora estão sofrendo com os ataques de bandidos, que estão aproveitando o fato dos imóveis estarem fechados, para roubarem o pouco que foi salvo. A residência da dona de casa Helineide Lima foi uma das atacadas. Ela disse que, ao chegar na manhã de hoje (18) ao imóvel para contabilizar os estragos e fazer a limpeza, encontrou a porta da frente emperrada, como se tivesse sido forçada.
“Está tudo estragado, perdido aí dentro e ainda tem gente que quer roubar as coisas, é um absurdo. O medo que temos é chegar para limpar a casa e dar de cara com um bandido. Eu pago R$ 600,00 de IPTU (Imposto Predial Territorial Urbano) e outros impostos, mas não tenho retorno algum, porque numa situação dessas, estou sem segurança, sem dignidade, sem ajuda do meu município, sem policiamento, sem nada. E a minha casa correndo risco de ser arrombada, saqueada por vândalos”, disse.
PGM diz que é preciso levantamento
O procurador geral do município, Carlos Castim, disse que é preciso fazer um levantamento para saber quantas famílias foram afetadas pelo transbordamento da lagoa São Conrado e também obter informações na justiça sobre os processos de pedido de indenização já julgados, para que a Prefeitura possa saber o que fazer. “A questão hoje é ver os prejuízos afetivos e fazer o cadastramento das famílias atingidas, para depois procurarmos os culpados pelas inundações sucessivas”, afirmou.

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