Ao discursar no Encontro Nacional em que o PT aclamou Dilma Rousseff como pré-candidata à reeleição, Lula instou os dirigentes e militantes da legenda a perseguirem um desafio extra em 2014. “Junto com a eleição da Dilma, nós temos que fazer um processo de recuperação da imagem do PT, mas, sobretudo, precisamos fazer uma campanha para construir uma nova utopia na cabeça de milhões e milhões de jovens brasileiros”, disse.
A certa altura, Lula estabeleceu uma comparação entre o PT que ele fundou em 10 de fevereiro de 1980, e a legenda que ocupa a Presidência da República há quase 11 anos, desde janeiro de 2003. Transmitidas ao vivo pela internet, suas declarações ficaram muito parecidas com uma autocrítica. O líder máximo do petismo concluiu que o dinheiro fez muito mal àquela legenda fundada há 34 anos.
Vale a pena ouvir Lula: “Nós criamos um partido político foi para ser diferente de tudo o que existia quando nós criamos esse partido. Esse partido não nasceu para fazer tudo o que os outros fazem. Esse partido nasceu para provar que é possível fazer política de forma mais digna, fazer política com ‘P’ maiúsculo.”
Escute-se mais um pouco de Lula: “Nós precisamos, então, voltar a recuperar o orgulho que foi a razão da existência desse partido em momentos muito difíceis, porque a gente às vezes não tinha panfleto para divulgar uma campanha. Hoje, parece que o dinheiro resolve tudo. Os candidatos a deputado nao têm mais cabo eleitoral gratuito. É tudo uma máquina de fazer dinheiro, que está fazendo o partido ser um partido convencional.”
Antes de discursar, Lula trocara um dedo de prosa com o presidente da CUT, Vagner Freitas. Ouvira dele um relato sobre o que sucedera na véspera, nos festejos do Dia do Trabalhador. Na celebração da CUT, os petistas que ousaram se interpor entre a plateia e as atrações musicais tomaram vaias e foram alvejados por latas, garrafas e bolas de papel.
“Eu ouvi do companheiro Vagner, presidente da CUT, hoje, que o 1º de Maio estava muito grande”, discursou Lula. “Mas ninguém queria ouvir falar de político. Não podia citar o nome de político que era vaiado. Então, companheiros, acho que esse é um desafio tão importante e tão grave quanto a gente eleger a Dilma.”
Evocando a “experiência” que acumulou nos últimos 12 anos, Lula disse, em timbre peremptório: “uma parte da elite brasileira não nos suporta.” Gente mal agradecida, que cospe no prato que comeu. “Como é que uma parte da elite brasileira é ingrata com um governo que consertou esse país?”, indagou.
Lula parecia referir-se ao empresariado que torce o nariz para Dilma. Mesmo sabendo que o governo, desde a sua época, “fez esse país crescer, criou um exército de consumidores como jamais foi criado nesse país, fez a economia se transformar numa economia forte, independentemente de o PIB [não] ter o tamanho que as pessoas desejam.”
Lula não deu nome à “parte da elite brasileira” que ele considera “ingrata”. Mas deve ser um pedaço minoritário da plutocracia. Do contrário, o PT não teria virado essa “máquina de fazer dinheiro” que o transformou num “partido convencional”. O próprio Lula não tem do que se queixar. Construiu o instituto que leva o seu nome a partir de generosas contribuições. De resto, amealhou um patrimônio milionário derramando o suor de sua língua em palestras para o naco da elite que sabe o que é gratidão.
Lula voltou a falar de dinheiro no trecho do discurso em que declarou que “não é possível aceitar gratuitamente a tentativa da elite brasileira de destruir a imagem da empresa que durante tantos anos é motivo de orgulho para o nosso povo.” Referia-se à Petrobras, que está na bica de ser varejada por uma CPI. Aliás, Lula disse que a estatal, de tempos em tempos, é alvejada por ameaças de CPI. “Sempre em época de eleição.”
Tomado por suas declarações, Lula é um bom candidato a depoente da CPI que o Congresso está prestes a instalar. Ele disse coisas assim: “…Eu era presidente e, muitas vezes, nessas campanhas, sempre aparecia alguém com um bilhetinho dizendo que era preciso fazer uma CPI da Petrobras.”
Lula falou como se estivesse impondo à própria língua um voto de silêncio: “Eu, às vezes, fico nervoso, não posso falar, porque eu não tenho imunidade. Mas a impressão que eu tenho é que tem gente querendo fazer caixa de campanha ameaçando em toda época de eleições a Petrobras.” Levado ao banco da CPI, Lula talvez explicasse de que maneira os oposicionistas que defendem a CPI podem fazer dinheiro na Petrobras de fora para dentro.
Hoje, graças aos bons serviços do Ministério Público e da Polícia Federal , a impressão que se tem é a de que é bem mais fácil “fazer caixa de campanha” na Petrobras de dentro para fora. Que o diga o ex-diretor preso Paulo Roberto Costa.
Guindado à poderosa diretoria de Abastecimento da Petrobras sob Lula, que o chamava de “Paulinho”, o agora detento era patrocinado por um condomínio de partidos que incluía o PP, o PMDB e o PT. Decerto não foi por ideologia que essas legendas emprestaram o seu rendoso prestígio político ao ex-diretor.
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