O aposentado Duarte da Costa está sofrendo processo na Receita
Federal por não ter declarado salários que teria recebido da
municipalidade natalense, referentes ao período de 2005 e 2006, durante a
administração do prefeito Carlos Eduardo Alves, acumulando um valor
anual de R$ 21.53,00. O curioso é que o cidadão jamais trabalhou para
esse órgão e hoje está incluso na lista de devedores da dívida ativa da
Receita.
Nascido em Jucurutu e criado em Currais Novos, Duarte foi servidor do
Banco do Brasil, em Natal, por 21 anos. Em 2005, passou a residir no
município de Santo Antônio do Sudoeste, no Paraná, onde recebeu uma
notificação do Ministério da Fazenda, através da Receita Federal, sobre a
inadimplência ao não declarar os salários que supostamente havia
recebido da Prefeitura do Natal, e, sem entender do que se tratava a
cobrança, pagou a conta de R$ 188, 68.
Logo após, vieram duas novas notificações, cada uma cobrando mais de
R$ 3.000,00 e dessa vez o aposentado não pagou. “Meu rendimento mal dá
pra receber alguma restituição, já que sou aposentado pela INSS, e agora
ele está sendo subtraído para cobrir o saldo devedor que supostamente
tenho, junto a Receita” disse.
No Paraná, Duarte buscou a Receita Federal, mas ouviu a resposta de
que o órgão não poderia fazer nada, já que a documentação relativa ao
processo estaria no Rio Grande do Norte, junto à prefeitura da capital
potiguar e, assim, não teria como ser investigado a que se refere o
imposto cobrado indevidamente.
Em 2010, Duarte voltou a Natal e iniciou sua trajetória para
resolução do mal entendido. Ao procurar a Receita Federal no Estado,
conta que se sentiu mal atendido, já que, segundo ele, os funcionários o
tratavam como um devedor. “Ao chegar à Receita, você é tratado como um
inadimplente, devedor, um sujeito sonegador que não quer pagar suas
contas e quando aparece um problema eles já lhe veem com maus olhos,
dificultando o atendimento” disse.
Apesar disso, ele encontrou um funcionário que o ajudou a localizar
de onde viria a dívida para pagamento do saldo devedor, que se
continuasse ativa, estaria pondo em risco o benefício da aposentadoria,
além de seus bens. Então, foi localizado no sistema da Receita um
documento que indicava que Duarte teria trabalhado na Prefeitura do
Natal, durante 2 anos (2005 e 2006) e nesse período, não havia declarado
o imposto de renda sobre o salário que supostamente recebeu da
instituição.
Indagado se conhecia alguém da Prefeitura, Duarte respondeu que tinha
contato, por trabalhar no Banco do Brasil, na agência da Avenida Rio
Branco. “Não tenho relação alguma, mas conheço alguns funcionários por
ter trabalhado no Centro e obrigatoriamente a Prefeitura teve relações
com o banco” disse.
Duarte diz que procurou os órgãos municipais responsáveis e tentou
consultar o Cadastro Geral de Contribuintes, porém não obteve respostas
positivas. Segundo relata, servidores da Secretaria Municipal de
Administração e Gestão Estratégica (Segelm) disseram que os dispositivos
que continham os dados sobre os servidores foram descartados, não sendo
possível nenhuma busca.
A partir de então, o aposentado contratou uma advogada para
administrar a causa, buscando a concessão de uma liminar para que a
Receita não executasse a dívida. Em maio de 2013, o processo deu entrada
na justiça, com uma ação de “fazer ou não fazer”, com solicitação para
que os bens não fossem bloqueados pelo Leão.
Com o passar do tempo, o processo teve sua conclusão, em março de
2014, com um resultado nada animador para Duarte. O processo foi julgado
como “incompetência de julgamento” por parte do juiz responsável pela
ação e então, paralisado. “Eu não sou funcionário, não fui trabalhador
da Prefeitura em Natal. Gostaria de saber do destino desse dinheiro”
reclama o aposentado.
A justiça arquivou o caso e a dívida continuou a crescer. A esperança
de Duarte é esperar que o processo seja transitado em julgado, para que
possa recorrer em um novo procedimento na justiça, tendo em vista a
análise do seu caso. “Estou embaraçado, sem saber o que fazer. Não tenho
uma luz no meu caso” afirmou.
Atualmente, a dívida está em cerca de R$ 9.651, 08 e a tendência é
que o valor aumente com acréscimo de multas e juros. Ele afirma que o
débito, no momento, não está executável pelo valor, pois, todos os anos,
a Receita vem descontando o montante, pela restituição do imposto de
renda que o aposentado tem direito.
Há quase dez anos, o caso vem dando seus desdobramentos e Duarte
espera que o processo seja retomado, para que assim, posteriormente dê
entrada em um processo contra a Prefeitura do Natal. “Não reconheço esse
meu vínculo empregatício com a Prefeitura. Sinto-me impotente em ser
taxado de sonegador. Sou um devedor, sem poder pagar” desabafa.
Procurado pela equipe d´O Jornal de Hoje, o secretário adjunto de
Gestão de Pessoas e Valorização do Servidor, Álvaro Murilo Crespo
Júnior, se disponibilizou a ajudar no caso do aposentado, buscando saber
onde foi parar o dinheiro que teria sido recebido por Duarte.
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