Rasmussen participa de uma entrevista coletiva na sede da Otan, em Bruxelas Foto: POOL/AFP JOHN THYS |
A Otan
suspendeu nesta terça-feira sua cooperação civil e militar com a Rússia,
em resposta à intervenção na Ucrânia, mas mantém o diálogo político com
Moscou por uma solução para a crise.
Além
disso, o secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, não confirmou o
início da retirada das tropas russas da fronteira com a Ucrânia, como
havia anunciado na véspera o presidente russo, Vladimir Putin.
Esse anúncio oficializa uma decisão tomada em nível de embaixadas em 5 de março.
O
secretário-geral não indicou quais seriam os programas de cooperação
afetados, mas ressaltou que todos aqueles ligados ao Afeganistão ou à
luta contra o tráfico de drogas não sofreriam mudanças.
"Acredito
que os projetos de cooperação ligados ao Afeganistão, sobre as rotas de
trânsito ou os helicópteros, deverão prosseguir, porque nós temos um
interesse comum em garantir o êxito de nossa missão no Afeganistão",
afirmou.
A Otan e a Rússia também colaboram,
com terceiros, na luta contra a pirataria no Oceano Índico e em
programas contra o terrorismo.
Reunidos em
torno no americano John Kerry, os chefes da diplomacia quiseram
demonstrar firmeza, sem, contudo, "jogar lenha na fogueira", porque "não
se pode oferecer pretextos à Rússia para relançar a escalada", resumiu
um diplomata.
A Otan também procura
tranquilizar os membros mais preocupados com a atitude de Moscou, entre
eles Polônia e os países bálticos, que pedem uma presença maior dos
aliados.
"Ficaríamos satisfeitos com uma presença mais forte da Otan", declarou o ministro polonês, Radek Sikorski.
A
Aliança garante que está pronta para "adotar as medidas necessárias
frente a qualquer ameaça de agressão contra seus membros", indicaram os
ministros, sem entrar em detalhes sobre questões operacionais.
Por
enquanto, a Otan mobilizou aviões radar do tipo AWACS no espaço aéreo
da Polônia e da Romênia. Os Estados Unidos enviaram caças F-15 e F-16 à
Polônia e aos países bálticos. Ao mesmo tempo, mantêm no Mar Negro o
destróier "USS Truxtun".
"Esses meios são suficiente por enquanto", assegurou uma autoridade militar.
Manobras com a Otan
"Não
é preciso mobilizar tropas na fronteira com a Rússia", considerou o
ministro holandês das Relações Exteriores, Frans Timmermans.
Sobre
o anúncio da retirada das tropas russas, Rasmussen indicou:
"Infelizmente, não posso confirmar que a Rússia está retirando suas
tropas. Não é o que temos visto".
"Este
deslocamento militar em massa não pode de forma alguma ser considerado
uma queda na tensão, algo que todos queremos que aconteça. Por isso,
continuaremos exigindo que a Rússia retire suas tropas e inicie um
diálogo construtivo com a Ucrânia", completou Rasmussen.
Os
Estados Unidos já haviam recebido com prudência na segunda-feira as
afirmações do Ministério russo da Defesa sobre a retirada de um batalhão
da fronteira com a Ucrânia.
Kerry ressaltou na
noite desta terça que é preciso saudar o anúncio russo, mas que a
desmobilização de tropas "é pequena em relação ao número de soldados
posicionados". "A questão é saber agora o que vai acontecer",
acrescentou, enquanto os americanos avaliam em pelo menos 20.000 o
número de soldados presentes na fronteira leste da Ucrânia.
A
presença militar russa na fronteira com a Ucrânia desperta o temor de
uma invasão do leste do país, com uma grande comunidade de língua russa.
Paralelamente,
o Parlamento ucraniano aprovou a realização de manobras militares
conjuntas em seu território com os países da Otan, entre maio e outubro.
Os
exercícios também acontecerão no Mar Negro, que banha a península da
Crimeia, anexada pela Rússia após um referendo organizado pela população
local, em sua maioria de origem e língua russa. Grande parte da
comunidade internacional considerou o processo ilegal.
A
instituição também aprovou o desarmamento dos grupos paramilitares que
participaram dos protestos contra o governo e que ainda controlam o
centro de Kiev.
A votação aconteceu um dia
depois de um tiroteio provocado por um integrante do movimento de
ultradireita Pravy Sektor na capital.
Neste contexto, a Rússia continua a fazer pressão econômica sobre a Ucrânia.
A empresa russa Gazprom anulou nesta terça-feira o importante desconto do preço do gás que concedia ao país.
A
Gazprom havia concedido em dezembro uma redução no preço do gás
fornecido ao governo do então presidente pró-Moscou Viktor Yanukovytch,
que foi destituído em fevereiro pelo Parlamento e substituído por um
governo pró-Ocidente.
O fim do desconto
representa um aumento de mais de um terço no preço do gás, que passará a
custar 385,5 dólares os 1.000 metros cúbicos, anunciou o presidente da
Gazprom, Alexei Miller.
O aumento, que já era
esperado, agrava as perspectivas econômicas da Ucrânia. O país recebeu
uma ajuda de 14 a 18 bilhões de dólares do Fundo Monetário Internacional
(FMI) para evitar uma quebra.
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