quarta-feira, 23 de abril de 2014

Mercado financeiro projeta inflação acima do teto do governo neste ano. Esta já foi a sétima alta consecutiva da previsão para a inflação deste ano

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Carolina Souza
acw.souza@gmail.com

Economistas do mercado financeiro já esperam que a inflação deste ano ultrapasse o teto da meta do governo, de 6,5%. Segundo dados coletados pelo Banco Central, através do boletim Focus, a expectativa para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), passou de 6,47% para 6,51% na semana passada. O relatório de mercado é fruto de pesquisa com mais de 100 instituições financeiras.

Esta foi a sétima alta consecutiva da previsão para a inflação. Para 2015, a estimativa ficou estável em 6%. Pelo sistema que vigora no Brasil, a meta central, para 2014 e 2015, é de 4,5%. Entretanto, há um intervalo de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Desse modo, o IPCA pode oscilar entre 2,5% e 6,5%, sem que a meta seja formalmente descumprida.

De acordo com a análise do economista Vinícius Oliveira Batista, professor e associado ao Conselho Regional de Economia, quando a meta de inflação é descumprida, o presidente da autoridade monetária precisa escrever uma carta aberta ao ministro da Fazenda explicando as razões que motivaram o “estouro” da meta formal.

No começo do ano, a inflação avançou com mais intensidade por conta do aumento dos preços dos alimentos – resultado das condições climáticas adversas (seca ou excesso de chuvas) no país. “É função do Banco Central fazer com que a inflação fique dentro da meta. Um dos instrumentos usados para influenciar a atividade econômica e, consequentemente, a inflação, é a taxa básica de juros, a Selic”, conta.

Quando o Comitê de Política Monetária do Banco Central aumenta a Selic, o objetivo é conter a demanda aquecida. Isso reflete nos preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Já quando o Comitê reduz os juros básicos, a tendência é que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo, mas a medida alivia o controle sobre a inflação.

“O Banco Central tem que encontrar equilíbrio ao tomar decisões sobre a taxa básica de juros, de modo a fazer com que a inflação fique dentro da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional”, explicou Oliveira Batista. A projeção das instituições financeiras para a Selic foi mantida em 11,25% ao ano, ao final de 2014, e em 12% ao ano, no fim de 2015.

O avanço do IPCA acentuou a acidez de especialistas e empresários quanto aos rumos da economia brasileira, que terá mais desafios a superar. Ainda que ninguém esperasse um IPCA em 4,5%, centro da meta do BC, a alta de preços refletida no índice ficou acima do esperado pelo mercado, com principais influencias advindas de alimentos e bebidas.

Segundo o economista, há uma alta permanente e generalizada de preços, agravada pelo abandono da busca pela meta. “Se o juro não subir e o gasto público continuar a galope, teremos um 2014 igual a 2013: com preços em alta e crescimento baixo”, afirmou.

O alerta ecoa certo pessimismo em relação à economia. Inflação em alta se soma à saída de dólares e ao risco de maior custo do crédito para consumidores e empresários, o que pode ter reflexos no ritmo de atividade. “Temos crescido a uma média de 2% nos últimos anos, muito por adiar reformas essenciais. Em algum momento o governo terá de subir ainda mais o juro para conter a inflação e atrair recursos, inibindo ainda mais a economia”, analisou.

Crescimento do PIB

Para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2014, a previsão dos economistas recuou de 1,69% para 1,63% na última semana. Foi o segundo recuo seguido deste indicador. O crescimento previsto para 2014 segue abaixo do estimado no orçamento federal – de 2,5% – e também está menor do que a previsão feita pelo BC no mês passado (2%). Para 2015, a perspectiva de expansão da economia brasileira, feita pelos analistas do mercado financeiro, ficou inalterada em 2% de alta. O PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos em território brasileiro, independentemente da nacionalidade de quem os produz.

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