Carolina Souza
acw.souza@gmail.com
Economistas do mercado financeiro já esperam que a inflação deste ano
ultrapasse o teto da meta do governo, de 6,5%. Segundo dados coletados
pelo Banco Central, através do boletim Focus, a expectativa para o
Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), passou de 6,47% para 6,51%
na semana passada. O relatório de mercado é fruto de pesquisa com mais
de 100 instituições financeiras.
Esta foi a sétima alta consecutiva da previsão para a inflação. Para
2015, a estimativa ficou estável em 6%. Pelo sistema que vigora no
Brasil, a meta central, para 2014 e 2015, é de 4,5%. Entretanto, há um
intervalo de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para
baixo. Desse modo, o IPCA pode oscilar entre 2,5% e 6,5%, sem que a meta
seja formalmente descumprida.
De acordo com a análise do economista Vinícius Oliveira Batista,
professor e associado ao Conselho Regional de Economia, quando a meta de
inflação é descumprida, o presidente da autoridade monetária precisa
escrever uma carta aberta ao ministro da Fazenda explicando as razões
que motivaram o “estouro” da meta formal.
No começo do ano, a inflação avançou com mais intensidade por conta
do aumento dos preços dos alimentos – resultado das condições climáticas
adversas (seca ou excesso de chuvas) no país. “É função do Banco
Central fazer com que a inflação fique dentro da meta. Um dos
instrumentos usados para influenciar a atividade econômica e,
consequentemente, a inflação, é a taxa básica de juros, a Selic”, conta.
Quando o Comitê de Política Monetária do Banco Central aumenta a
Selic, o objetivo é conter a demanda aquecida. Isso reflete nos preços,
porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança.
Já quando o Comitê reduz os juros básicos, a tendência é que o crédito
fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo, mas a medida
alivia o controle sobre a inflação.
“O Banco Central tem que encontrar equilíbrio ao tomar decisões sobre
a taxa básica de juros, de modo a fazer com que a inflação fique dentro
da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional”, explicou
Oliveira Batista. A projeção das instituições financeiras para a Selic
foi mantida em 11,25% ao ano, ao final de 2014, e em 12% ao ano, no fim
de 2015.
O avanço do IPCA acentuou a acidez de especialistas e empresários
quanto aos rumos da economia brasileira, que terá mais desafios a
superar. Ainda que ninguém esperasse um IPCA em 4,5%, centro da meta do
BC, a alta de preços refletida no índice ficou acima do esperado pelo
mercado, com principais influencias advindas de alimentos e bebidas.
Segundo o economista, há uma alta permanente e generalizada de
preços, agravada pelo abandono da busca pela meta. “Se o juro não subir e
o gasto público continuar a galope, teremos um 2014 igual a 2013: com
preços em alta e crescimento baixo”, afirmou.
O alerta ecoa certo pessimismo em relação à economia. Inflação em
alta se soma à saída de dólares e ao risco de maior custo do crédito
para consumidores e empresários, o que pode ter reflexos no ritmo de
atividade. “Temos crescido a uma média de 2% nos últimos anos, muito por
adiar reformas essenciais. Em algum momento o governo terá de subir
ainda mais o juro para conter a inflação e atrair recursos, inibindo
ainda mais a economia”, analisou.
Crescimento do PIB
Para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2014, a previsão
dos economistas recuou de 1,69% para 1,63% na última semana. Foi o
segundo recuo seguido deste indicador. O crescimento previsto para 2014
segue abaixo do estimado no orçamento federal – de 2,5% – e também está
menor do que a previsão feita pelo BC no mês passado (2%). Para 2015, a
perspectiva de expansão da economia brasileira, feita pelos analistas do
mercado financeiro, ficou inalterada em 2% de alta. O PIB é a soma de
todos os bens e serviços produzidos em território brasileiro,
independentemente da nacionalidade de quem os produz.
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