Roberto Campello
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“Estamos sem água para atender os pacientes”. Diante da constante
falta de médicos e medicamentos, parece improvável imaginar que o
atendimento médico em uma unidade de saúde seja comprometido por falta
d’água. É o que está acontecendo no Hospital dos Pescadores, localizado
no bairro das Rocas, zona Leste de Natal. Em plena greve dos servidores
municipais da saúde, quando o atendimento já está reduzido para apenas
30%, a situação no Hospital dos Pescadores é ainda mais complicada. A
constante falta d’água tem obrigado o Município a comprar água mineral
para fazer a alimentação dos pacientes e funcionários, bem como para a
higienização, segundo denuncia o Sindicato dos Servidores em Saúde do
Rio Grande do Norte (Sindsaúde-RN), que realizou um protesto na manhã
desta quinta-feira (17) em frente à unidade, denunciando a falta de
condições de trabalho na unidade.
A coordenadora geral do Sindicato, Simone Dutra, explicou que a falta
de água no Hospital dos Pescadores se deve a desativação, há quase
quatro meses, de uma cisterna que abastecia a unidade. À época, conta os
funcionários, foi encontrado um gato morto já em estado de decomposição
dentro da cisterna. Agora, o Hospital depende de uma caixa d’água
pequena, que não consegue dar vazão as necessidades da unidade e com
isso, constantemente falta-se água. Na manhã de hoje, um carro-pipa
estava estacionado na lateral do hospital para abastecer a caixa d’água.
“Tudo fica comprometido no hospital, inclusive a higienização dos
pacientes. Os banhos passaram a ser de água parada, de cuia, e isso não é
bom, pois os pacientes estão doentes, estão juntos e existe
proliferação de bactérias”.
“Queremos durante a greve dar visibilidade aos problemas que essas
unidades estão passando. No Hospital dos Pescadores os problemas são
recorrentes. No ano passado, a falta de energia era constante porque não
tinha um gerador que funcionasse. Este ano é a falta d’água e a
Prefeitura não consegue responder a essa demanda, tão básica para o funcionamento
de uma unidade, pois é inadmissível um serviço passar um dia sequer sem
água”, destacou a sindicalista. Simone ressalta que a falta d’água
compromete inclusive a higienização das mãos dos profissionais, antes
dos procedimentos.
Simone Dutra criticou a falta de investimentos da Secretaria
Municipal de Saúde no Hospital dos Pescadores. “Essa unidade é um
hospital de pequeno porte, onde funcionam 25 leitos de internamento para
clínica médica, mas não é dada a devida estrutura para funcionar como
hospital. O que acontece com o Hospital dos Pescadores é apenas um
recorte do que está acontecendo na saúde de Natal, por isso que estamos
em greve”, afirmou a coordenadora geral do Sindsaúde-RN.
A aposentada Angelina Lira das Neves, de 92 anos, há 15 dias está
internada no Hospital dos Pescadores com pneumonia. A filha dela, a dona
de casa Maria Geovanina, de 59 anos, relata as dificuldades enfrentadas
pela mãe devido a falta d’água. “Minha mãe já é idosa e não consegue
andar. Ela precisa de uma cadeira especifica na hora de tomar banho, mas
aqui não tem. A falta d’água tem comprometido e muito o atendimento
aqui. Os funcionários são bons, mas não podem fazer muita coisa, pois
falta quase tudo aqui dentro. Não temos muita esperança, pois a nossa
saúde está zero”, afirmou.
Maria Geovanina conta que quando a mãe precisa fazer as necessidades
fisiológicas ela precisa pegar um balde com água mineral para poder
fazer a limpeza da mãe na própria maca onde a mãe está internada. “O mau
cheiro já está incomodando todo mundo aqui. A situação pode piorar
ainda mais porque se continuar desse jeito, a falta de limpeza pode
proporcionar infecção para os pacientes, como também para os
acompanhantes. Será que precisa alguém morrer para resolverem essa
situação?”, indagou a dona de casa revoltada com a situação das mães.
Os servidores da saúde de Natal iniciaram a greve nesta terça, dia
15, com uma passeata até a Prefeitura de Natal, onde tiveram uma
audiência com o prefeito Carlos Eduardo, junto com os outros sindicatos
do município. Os servidores reivindicam 18,34% de reajuste salarial,
reajuste nas gratificações, segurança nas unidades e o cumprimento dos
acordos passados, entre outros pontos. Uma nova audiência será realizada
na terça-feira, 22, na Secretaria de Planejamento do Município
(Seplam).
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