segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

O DESABAFO DO CANTOR FERNANDO LUIZ SOBRE O 79º SHOW DAS COMUNIDADES



O SHOW DAS COMUNIDADES AMEAÇADO Deixei passar quatro dias para não escrever um texto sob forte tensão emocional. Agora, que estou mais tranquilo, vou desabafar. Quarta-feira passada, dia 27, seria realizado no conjunto Pajuçara II, na Zona Norte de Natal, o 79º Show das Comunidade, o projeto musical mais importante do Rio Grande do Norte e com maior alcance social, que existe há 11 anos e já atravessou três administrações estaduais e três municipais, com o patrocínio da Lei Djalma Maranhão. 

Aberto ao público, já lançou 05 cd’s com artistas das comunidades, deu prêmios, revelou novos talentos, divulgou o trabalho de artistas consagrados, reúne cantores, bandas, grupos musicais, artistas circenses, humoristas, dançarinos, artistas covers, palhaços de circo, etc. É uma verdadeira tribuna livre cultural. Nos 11 anos de existência do projeto eu já enfrentei alguns problemas pontuais, com relação à iluminação pública, policiamento, intervenção viária e até dificuldades de patrocínio, mas nada que não fosse resolvido a tempo. 

Nunca houve um único show cancelado. Mas na quarta-feira passada, o Show das Comunidades não se realizou. E pela primeira vez desde sua criação, tivemos todos os problemas que se possa imaginar, que não permitiram que o show programado para Pajuçara II se realizasse. Antes, devo afirmar que cumprimos toda a parte burocrática dentro dos prazos exigidos pelos órgãos públicos, como o envio dos ofícios e os pagamentos de todas as taxas. 

Vamos lá: 
1) A URBANA não enviou a equipe para fazer a limpeza do local; 

2) A SEMSUR não enviou os 600 metros de gambiarra para iluminar o local; pela manhã liguei para o órgão, falei com a pessoa responsável, que me garantiu a colocação da gambiarra por volta das 14 horas. Por volta das 17 horas alguém da SEMSUR ligou para a produção do evento informando que “a gambiarra não seria colocada, pois o carro da Secretaria estava quebrado”. Estressado, liguei para o órgão, e como o telefone do Gabinete estava ocupado, entrei em contato com Aarão, uma pessoa extraordinária que trabalha no órgão. Arão levou o problema ao Secretário Raniere Barbosa, que providenciou o envio de uma equipe. Mesmo assim, o pessoal só conseguiu chegar ao local do show para instalar a gambiarra por volta das 19:30. Embora eu seja grato ao meu amigo Raniere pelo envio da gambiarra, não foi possível a instalação, pois o pior já tinha acontecido... 

3) No dia anterior ao show paguei a taxa da COSERN e não fui informado de que tinha havido nenhuma alteração no sistema de instalação da energia elétrica. Entretanto, a COSERN não ligou a energia, alegando que não tinha sido instalada uma tal caixa de energia trifásica. Aqui cabe a pergunta: se em todos os shows anteriores (inclusive no show realizado há pouco méis um mês atrás), nunca fora feita esta exigência, como eu poderia adivinhar este fato novo? A COSERN teria que me informar, como usuário que há 11 anos realiza este evento, desta nova exigência. Ou não? 

4) Mais do que estressado e já apavorado eu, que desde as 15 horas estava no local do show, contratei às pressas um caminhão gerador, mesmo sem saber de onde iria tirar o dinheiro para arcar com esta despesa extra. E um gerador foi enviado ao local pela empresa Erociano Promoções. 

5) Aí veio o “golpe de misericórdia”. Os bombeiros interditaram o show, alegando que o palco estava armado sob fios de alta tensão. Só que há um detalhe: o palco estava armado exatamente no mesmo local do Pajuçara Fest, um evento que dura TRÊS DIAS, e que é realizado anualmente, no mês de julho pela líder comunitária Claudete Trindade que, além de me dar um apoio logístico para a realização do evento também me cedeu a planta baixa para o local do show. Segundo Claudete, o Pajuçara Fest foi realizado com a autorização do Corpo de Bombeiros. Portanto, se eu utilizei a mesma planta baixa do Pajuçara Fest, aqui cabe mais uma pergunta: porque então o Show das Comunidades foi interditado?) 

6)Além dos órgãos citados, ainda temos que enviar ofícios à PM solicitando policiamento ostensivo, à SEMOB ( Intervenção Viária) e à SEMURB, que dá a autorização para a realização do evento. Embora até minha saída do local do show o Policiamento não tivesse chegado, é provável que isto tenha ocorrido depois que me ausentei. Quanto à SEMURB e à SEMOB, tudo ocorreu dentro da normalidade. 

7) Conclusão: para não ter uma crise de hipertensão, fui para casa, autorizei o desmonte do palco e, embora eu tenha tomado conhecimento de que algumas pessoas do bairro, revoltadas com a suspensão do show, tivessem retirado as faixas de isolamento colocadas pelo Corpo de Bombeiros, em nenhum momento pensei em desobedecer à a determinação do órgão, não só porque sou um cidadão que cumpro à risca as determinações da Lei, como também tenho um nome a zelar e não vou jamais macular minha imagem de 43 anos de atuação no mercado como artista, produtor cultural e promotor de eventos sócio-culturais por causa do cancelamento de um show, por mais prejuízos e transtornos que isto pudesse me causar. Agora estou me organizando para ver como vou cobrir os custos extras do Show das Comunidades que não houve, como o pagamento de todas as taxas, das ART’s, do gerador, além das minhas despesas pessoais e do tremendo desgaste físico, emocional e profissional pelo qual passei. 

Em um único dia foi jogado por terra o trabalho cansativo e estressante que durou mais de um mês para organizar o evento. Uma verdadeira falta de respeito e um exemplo de descaso para comigo que, nos últimos 11 anos coloquei minha própria carreira profissional em segundo plano, para levar adiante um projeto que, embora aprovado pela população e respeitado pelo pelos formadores de opinião, não merece a mínima consideração por parte dos órgãos competentes que, de vez em quando parecem usar dois pesos e duas medidas. A verdade é que há vários meses eu venho percebendo que as dificuldades para a realização do Show das Comunidades aumentam cada vez mais. 

Sempre tenho procurado manter uma discrição com relação aos problemas que enfrento, mas estou cansado: agora vou BOTAR A BOCA NO TROMBONE. O estresse contínuo, os aborrecimentos constantes e agora o prejuízo financeiro estão me levando a admitir algo que eu achei que jamais iria ocorrer: estou pensando seriamente em parar com o Show das Comunidades. Dói dizer, mas é verdade.

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