domingo, 29 de setembro de 2013

Investimento em mobilidade no Brasil é vergonhoso, diz especialista sobre Pnad

A Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) 2012, divulgada nesta sexta-feira (27), apontou que o brasileiro está comprando mais carros e motocicletas. Para o coordenador do núcleo de infraestrutura e logística da Fundação Dom Cabral, Paulo Resende, este é um reflexo dos escassos investimentos em mobilidade urbana feito pelas três esferas de governo.
“O nível de investimento em mobilidade no Brasil é vergonhoso, ridículo. Devia ser muito maior. Se pegarmos todos os projetos hoje no país, o investimento é de cerca de R$ 81 bilhões”, afirma Resende. “Isso não representa um quinto do necessário. Precisaríamos de R$ 450 bilhões a R$ 500 bilhões em projetos nos próximos anos para acelerar a retirada de veículos das ruas.”
No país, o percentual de domicílios em que ao menos um morador possuía carro, segundo a pesquisa, chegou a 42,4%, o que corresponde a 26,7 milhões de lares. Já as motocicletas estão presentes em 20% das casas, com 12,6 milhões de unidades. Em 2011, 40,9% das residências tinham um carro – com aumento 1,3 ponto percentual em 2012. Já o percentual de casas com motos subiu 0,9 ponto entre 2011 e o ano seguinte.
“Os dados são preocupantes. Não é só a Pnad que demonstra isso, mas nos últimos dez anos o Brasil ampliou sua frota, e o ritmo não mostra sinais de arrefecimento”, afirma o especialista. “O aumento do número de veículos não vai cessar. A aquisição de carros é cada vez mais fácil, e a frota de segunda mão tem preço acessível.”
A presidente Dilma Rousseff anunciou este ano que pretende destinar R$ 50 bilhões para novos investimentos em mobilidade urbana até o final de seu mandato. Nos últimos 11 anos (2002 a 2012), em valores atualizados, R$ 6,8 bilhões foram autorizados para ações de mobilidade urbana, porém apenas R$ 1,3 bilhão (19,1%) foi efetivamente aplicado.
Até junho de 2013, o programa orçamentário “Mobilidade Urbana e Trânsito”, que promove a articulação das políticas de transporte, trânsito e acessibilidade, aplicou apenas 13,3% do total de recursos previstos para o exercício (R$ 1,5 bilhão) – o equivalente a R$ 205,7 milhões.
Resende faz um comparativo da maior metrópole do país, São Paulo, a duas cidades cheias de veículos, mas com situações distintas: Los Angeles (Estados Unidos) e Nova Delhi (Índia).
“A cidade indiana tratou o problema da explosão de veículos de forma não planejada, apenas com medidas paliativas. O investimento em metrô e transporte público foi baixo e se abriu espaço para efeitos de insegurança: em determinados bairros se paga pedágio para os donos da região. Los Angeles fez o contrário”, disse. “Lá a opção de ter carro é do cidadão. Ele acha que vale a pena ter carro, apesar de ter havido investimento maciço em transporte público.”
São Paulo e as grandes cidades do país, segundo Resende, se encaminham para replicar Nova Delhi. “Um lado da equação nos coloca no caminho destas duas cidades: o aumento do número de veículos não vai parar. A questão é o outro lado da equação. O que nós faremos? Medidas de curto prazo? A reação dos gestores tem sido de fazer obras. São viadutos, pontes, contrato fácil, facilidades para a corrupção e nada de planejamento a longo prazo.”

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