sábado, 31 de agosto de 2013

Profissionais do Mais Médicos estranham desigualdades na Saúde

2013-641554829-2013083027034.jpg_20130830Na primeira visita a uma unidade de saúde desde que chegaram ao Rio de Janeiro, há uma semana, 20 dos 79 médicos que integram o Mais Médicos na cidade, entre estrangeiros e brasileiros formados no exterior, conheceram na manhã de hoje a Clinica da Família Assis Valente, na Ilha do Governador. Além do contato com a rotina da unidade, eles tiveram aulas de saúde da família.
Segundo o coordenador pedagógico do módulo de acolhimento do Rio, Paulo Mendonça, a visita foi criada para que os profissionais entendam como funciona a rede de saúde. Esta será a única visita que os profissionais farão antes do início das atividades, em 16 de setembro. Mendonça também falou sobre a situação excepcional do estado do Rio de Janeiro, que é um dos mais desiguais do país. Perguntado sobre a necessidade de os médicos conhecerem clínicas com pouca estrutura, diferentes das que encontraram na capital, ele disse que, no Rio, o modelo de clínicas da família é bom:
— Nós, brasileiros, precisamos de ajuda. Humildemente, precisamos reconhecer isso. A gente trabalha a questão da desigualdade no Brasil. Há cinco anos, não tínhamos nem 3% de estrutura de saúde da família no Rio. No interior, não é verdade que não haja nada, mas o estado do Rio tem os melhores e piores índices do país. Como Japeri pode ser tão diferente do Rio? Como a Penha pode ser tão diferente do Complexo do Alemão? É importante que eles vejam um modelo como esse — disse o coordenador, acrescentando: — A maior pergunta dos médicos é esta: “Como funciona a rede de saúde no Brasil?” Eles custam a entender essa desigualdade.
O médico argentino Hugo Galantini, porém, disse ter ficado impressionado com a estrutura da clínica Assis Valente:
— Aqui tem tudo. Normalmente, atenção básica é bem básica mesmo, mas aqui parece ser diferente.
Para a visita, os 79 médicos que estão no Rio foram distribuídos em quatro unidades próximas à Avenida Brasil, onde estão hospedados em um alojamento da Marinha. Em quatro grupos de 20, eles foram acompanhados por professores do módulo de acolhimento.
Mendonça adiantou, durante a visita, que médicos destinados a distritos indígenas terão mais tempo de treinamento:
— Quem for para situações extremadas fará mais tempo de treinamento. A saúde indígena terá um módulo maior junto às áreas indígenas. Os médicos serão acompanhados por um antropólogo. Eles precisam aprender a língua. É muito mais complexo. No Brasil, temos 180 línguas diferentes. A situação é diferente.
Animado com a visita à unidade da Zona Norte, que considerou excelente, o espanhol José Maria Pabcos, de 56 anos, já trabalhou em Portugal e na Inglaterra, onde morava antes de vir ao Brasil. Ele desistiu da Inglaterra por causa da língua e vai trabalhar em Cáceres, no Mato Grosso:
— Estou na expectativa, não sei o que vou encontrar em Cáceres. Fui para a Inglaterra com a expectativa de ficar, mas a língua atrapalhou, foi uma barreira. Se eu não entendo direito o que o doente diz, fico como no mar, à deriva — disse Pabcos, que fez questão de falar em bom português, reticente de que jornalistas dissessem que os estrangeiros não dominam a língua.
A Clínica da Família Assis Valente, na Ilha do Governador, foi inaugurada em julho de 2011 e atende uma média de 2.500 pessoas por mês. Nela, trabalham cerca de 60 profissionais, entre médicos, técnicos de enfermagem, enfermeiros e agentes de saúde. Eles são divididos em seis equipes de dez pessoas.
O Globo

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